sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O Santo Padre Cruz faleceu em Lisboa, a 1 de Outubro 1948






O Santo Padre Cruz já está muito velhinho. Mas a sua velhice não é ainda a "ruína" doutros anciãos da sua idade. No seu corpo decrépito arde a chama imortal da vida divina. É já uma "sombra velhinha": mas a essa sombra descansam novos, mais fatigados e envelhecidos de alma do que ele.


A boca está descolorida e murcha, mas continua a sorrir. O coração já lhe bate desconcertado, mas o amor continua a ser para ele "grande e imensa ocupação".




Viveu, envelheceu, sem mudança na vida: sempre de joelhos a rezar, sempre de mãos abertas a dar. Sempre pelos caminhos... Há quantos anos?! Sempre pelas cadeias e hospitais... Há quantos anos?




Já o Senhor levou quase todos os que o viram começar; e, os que vieram depois, acham natural que ele continue na vida que sempre lhe viram fazer...




Para o Padre Cruz viver foi dar-se pela salvação e pela glória de Deus. Por isto mesmo, quando velhinho e doente, o seu apostolado não paralisou.




Recebia, no quarto, algumas pessoas e escrevia a muitas. Há tantos meios de salvar almas! E o Padre Cruz conhecia-os bem.

Podia rezar, podia sofrer. E rezava dia e noite por aqueles que trabalhavam na vinha do Senhor. E, sem se queixar da velhice nem da doença, dizia: "Dou muitas graças a Deus por ter chegado a esta idade de 89 anos, sendo bastante doente desde há muito anos, e peço a tão Bom Senhor a graça de, no resto da minha vida, O amar sempre e fazer amar de muitas almas. Seja esta sempre a minha vontade: Coração de Jesus fazei que eu Vos ame e Vos faça amar".




Se o fim da sua vida preocupava os seus muitos amigos, este assunto a ele deixava-o tranquilo: "Bendito seja o nosso Bom Deus e sempre em tudo seja feita a sua santíssima vontade".
Mas a morte aproximava-se, pacificamente, e veio a 1 de Outubro de 1948. Teria o Padre Cruz pressentido o seu fim? Tal não parece, pois ele não estava preocupado com este momento. A morte do pecado foi a que ele sempre mais temeu, porque seria a separação definitiva da comunhão com Cristo. Por isto mesmo rezava, todos os dias: "Maria Santíssima, pedi a Deus Pai de quem sois filha, a Deus Filho de quem sois mãe, ao Divino Espírito Santo de quem sois esposa, o perdão dos meus pecados, vós que ,sois a Mãe de misericórdia, e no resto da minha vida ter uma fé viva, esperança firme e caridade ardente e graça para comunicar estas virtudes a muitas almas e evitar todo o pecado mesmo venial deliberado, resistir prontamente a todas as tentações, fazer todo o bem que posso e devo com pura intenção e, o que não posso fazer, ter desejo e pena de não poder, e levar todos os meus trabalhos e sofrimentos com inteira submissão à vontade de Deus e procurar adiantar no caminho da perfeição".



Escreveu Santo Agostinho: todos os homens temem a morte do corpo e só poucos temem a morte da alma. O Padre Cruz está entre estes poucos.

O Padre Cruz sentia-se radicalmente livre e salvo por Cristo, porque Ele o libertara do pecado e da sua consequência: a morte. Esta libertação não era a morte biológica, pois Cristo também morreu, mas a libertação da escravidão opressora da morte, do medo à mesma, do sem sentido e absurdo de uma vida inútil que acaba no nada.


À Luz da ressurreição de Cristo, o Padre Cruz sabia, há muito tempo, que a morte física, inevitável apesar dos adiantos da medicina e da aspiração do homem à imortalidade, que ela não era o fim do caminho, mas sim a porta que lhe franqueava a libertação definitiva com Cristo ressuscitado. Graças a esta fé o Padre Cruz, hoje, é um ser para a vida.